Cada dia os cidadãos de diferentes partes do mundo manifestam suas preocupações pelo futuro de suas cidades. Os espaços públicos, como ruas, parques e praças tornaram-se essenciais para que uma cidade seja bem sucedida, já que neles são geradas diversas possibilidades de desenvolvimento econômico e social e, cada vez são mais valorizados pelos cidadãos.Entretanto, a construção e manutenção dos espaços públicos por parte dos governos locais ainda não é um tema que se aborda de forma correta em muitas cidades, nas quais não existem numerosos espaços públicos bem projetados e com participação cidadã durante o processo de desenho.
Tomando estas deficiências como desafios, a organização Project for Public Spaces (PPS) lançou há algumas semanas o “Placemaking and the Future of Cities”, o rascunho de uma próxima publicação. Através de dez conselhos muito úteis, busca melhorar certos aspectos econômicos, sociais e ambientais das cidades mediante uma reabilitação dos espaços públicos já existentes. Neste sentido, a publicação servirá como um guia para os governos locais que decidam buscar o êxito urbano através de um enriquecimento dos espaços públicos.
A seguir podemos conhecer as 10 dicas de PPS para melhorar os espaços públicos das cidades:
1. Converter as ruas em calçadões.
Quando falamos de espaços públicos, o primeiro lugar que associamos a esta categoria são as ruas. Nelas, as relações entre automóveis, ciclistas e pedestres nem sempre são boas, por falta de espaço suficiente. Por isto, PPS postula que não só as principais ruas dos núcleos urbanos mais transitados devem ser convertidas em calçadões, mas devem-se habilitar as vias circundantes para alcançar um equilíbrio no deslocamento, já que atualmente os calçadões conectam-se ou terminam em ruas com automóveis. Se mais ruas se convertessem em calçadões, os habitantes se relacionariam entre si e com as atividades cotidianas da cidade, melhorando a coesão social.
2. Criar parques e praças públicas como destinos com múltiplas funções.
As área verdes das cidades são espaços atrativos quando nelas são desenvolvidas atividades orientadas a diferentes tipos de pessoas. Para configurar uma agenda de atividades, PPS argumenta que o seu desenvolvimento deva ser feito de forma coletiva, para tornar cada visita aos parques e praças em uma “experiência pública compartilhada “.
3. Construir economias locais através de mercados urbanos.
Se considerarmos que muitas cidades originaram-se em torno de seus mercados, os mesmos devem ser entendidos como pontos de encontro e intercâmbios de bens, sendo impossível imaginar uma cidade que não conte com eles. Na América do Norte, a presença e a criação de mercados públicos foi muito diminuída pela alta quantidade de supermercados. Os mercados urbanos têm renascido principalmente na Europa, pois se apresentam como alternativas viáveis que ajudam a preservar as terras de cultivo, estimulam a economia local e revitalizam os bairros vizinhos. Além disso, em seus corredores, relacionam-se pessoas de todas as classes sociais, uma vez que servem como uma oportunidade econômica e de trabalho para as pessoas com menores rendas.
4. Projetar edifícios que sirvam como redes de conexões entre distintos bairros.
A urbanização desenvolveu-se nos últimos anos em uma escala sem precedentes, que deu novas conotações para o papel que os edifícios desempenham na definição da esfera pública. Se levarmos em conta que esta área inclui edifícios de visibilidade e interação que exercem no nível da rua, o ideal é que os edifícios sejam construídos relacionados à escala onde serão implantados.
Se isso for cumprido, podem-se gerir novos bairros em torno de edifícios, criando inúmeras atividades orientadas na vida cívica e para regenerar essas áreas que muitas vezes não são utilizadas, já que não contam com um bom acesso ou pontos de trânsito.
5. Vincular a agenda de saúde pública com os programas de espaços públicos.
Segundo PPS, os espaços públicos deveriam ser reconhecidos por suas contribuições à saúde, já que os mercados públicos oferecem alimentos frescos e saudáveis; as ruas permitem que os cidadãos percorram a cidade a pé ou em bicicletas e os parques reduzem o estresse. Se levarmos em conta estas contribuições gratuitas, não é ilógico pensar que neles poderiam ser instalados centros de saúde que atuem como centros comunitários e que ofereçam serviços de saúde e educação.
6. Reinventar as organizações comunitárias.
No momento de projetar certos setores das cidades, é vital levar em conta as aspirações de quem fará parte dela – os moradores locais. Por isto é necessário capacitar os membros das organizações civis ensinando-lhes a importância histórica dos lugares que habitam, as funções que deveriam cumprir para satisfazer certas necessidades e como reconhecer quando um lugar é atrativo para as pessoas. Com isto, gerar-se-ia um sentido de pertencimento nos membros das organizações, que se beneficiariam de novas motivações para apresentar suas propostas para as instituições governamentais envolvidas, como atores sociais relevantes.
Cabe mencionar que os espaços públicos devem ter a capacidade de evoluir com o tempo, tendo em mente as aspirações da comunidade, para que se torne um grande destino.
7. O poder dos “10”.
Este princípio considera que se um espaço público reune 10 características que conseguem atrair um grande número de visitantes, este pode converter-se em um “grande lugar”. Logo, para fazer que um bairro se torne interessante, deve-se contar com 10 lugares atrativos. Por último, para que uma grande cidade seja considerada como tal, deve-se ter 10 bairros excelentes. Se todos os espaços públicos podem ser construídos ou regenerados, as pessoas poderiam contar com um “grande lugar” a pouca distância de suas casas.
8. Criar um programa integral para espaços públicos.
Um programa focado no desenvolvimento de espaços públicos deve incluir uma avaliação preliminar que identifica os melhores e piores aspectos de desempenho segundo os visitantes. Posteriormente, os encarregados locais devem criar estratégias para reforçar as áreas bem avaliadas e melhorar as deficientes, com o objetivo de alcançar uma gestão otimizada dos recursos dos espaços públicos e destes lugares. O programa deve estar vinculado a novos projetos de desenvolvimento para conservar e melhorar os entornos públicos, considerando aspectos cívicos que neles podem ser desenvolvidos e que se integrem integralmente ao parque.
9. “Mais leve, mais barato, mais rápido”. Começar pequeno e experimentar.
Um pequeno café, assentos, trilhas e eventos da comunidade são exemplos de implementações simples que geram ampla aceitação no curto prazo, com visitantes de parques públicos. Para criar novas ideias como essas, algumas cidades implantaram projetos urbanos denominados “Mais leve, mais barato, mais rápido”, o que permite que a comunidade envie propostas às autoridades locais para dar novos usos e funções para as áreas verdes. Para evitar perdas econômicas, cada ideia é promovida no lugar onde iria ser localizada, para detectar o interesse que gera nas pessoas.
10. Reestruturar o governo para ajudar os espaços públicos.
Como os governos locais possuem distintos escritórios administrativos que são responsáveis por áreas tão variadas como trânsito, parques e praças, e organizações sociais; PPS descobriu que não há uma área especializada na gestão de áreas entre os espaços públicos mencionados. Assim, as propostas dos cidadãos que refletem os valores, costumes e as necessidades de uma comunidade não são considerados pelas autoridades, pois não há um escritório para gerenciar tais projetos. Além disso, considerando que na maioria dos casos, o privilégio é do privado, as ações do Estado acabam relegadas para segundo plano.
Para evitar que isso aconteça, PPS recomenda reestruturar os governos locais para eliminar a burocracia e trabalhar em torno de propostas de cidadãos que podem ser financiadas pelos atores estatais e privados, mas não unicamente por este setor. Esta poderia ser uma mudança efetiva a curto prazo, e em cada local, pode-se agregar um valor e um potencial para o futuro.
Se você quiser obter o rascunho completo de Placemaking and the Future of Cities”, acesse este link (http://www.pps.org/wp-content/uploads/2012/09/PPS-Placemaking-and-the-Future-of-Cities.pdf).
Via Urban Times.